segunda-feira, 2 de abril de 2012

Especial Westvleteren parte 2 - A cerveja trapista com gosto de mistério


(cont.)

JAN DE DEKEN 

ESPECIAL PARA A VOLTA AO MUNDO EM 700 CERVEJAS



Westvleteren a volta ao mundo em 700 cervejas

Parte anterior: Uma cerveja para alimentar a fé dos bebedores

Geralmente, somos atraídos ou repelidos por aquilo que não compreendemos completamente. Westvleteren, repleta de mistérios, não pode deixar muitos indiferentes. Ao contrário de várias cervejarias renomadas, a de Saint Sixtus não pode ser visitada pelo público. O monastério também não pode ser visitado, mas menos pessoas se importam com isso. Apenas no centro de visitantes do outro lado da rua se pode encontrar alguma explicação sobre a abadia e sua cerveja.

Os monges de Saint Sixtus não contratam “engenheiros de cerveja” altamemente educados. Por gerações, o segredo de Westvleteren é passado entre os monges escolhidos. Informações essenciais para o processo de produção, como as temperaturas usadas, permanecem um segredo guardado com afinco que muitos monges levaram para o túmulo. Também para a imprensa, muitas vezes acampada em frente ao portão para visitar uma das cervejarias mais famosas do mundo, o portão costuma estar fechado.

Mesmo as garrafas de cerveja estão envoltas em silêncio. Westvleteren é normalmente vendida em garrafas sem rótulo. Todas as informações que eles são obrigados a colocar estão na tampinha.


Tesouro para poucos

Chegamos então à chave que torna a Westvleteren uma das maiores ondas na história da cerveja: sua exclusividade.



A melhor cerveja do mundo não está disponível na lojinha da esquina. A produção anual de 60 mil caixas de 24 garrafas é vendida apenas diretamente aos consumidores, no portão do monastério. Para conseguir uma caixa de Westvleteren, é preciso paciência e perseverança. A única maneira é ligar para o “disque-cerveja”, o que pode levar dia – apenas uma em cada 50 ligações é atendida.

Uma vez que tenha sido atendido, você só pode pedir no máximo duas caixas, que tem que buscar em pessoa, de carro. Seu número de telefone e placa do carro serão registrados e apenas dois meses depois você poderá tentar renovar seu suprimento.

Em novembro de 2011, os monges abriram uma exceção, uma vez que os muros da abadia de Saint Sixtus estavam prestes a ruir. Para pagar a reforma, 93 mil caixas surpresa de Westvleteren 12 foram colocadas à venda nos supermercados da rede Carrefour por toda Bélgica. Milhares de fãs sedentos fizeram fila antes dos supermercados abrirem. Pouco depois de abertos, o carregamento todo estava esgotado. No entanto, os monges rapidamente declararam que era uma ação especial única por causa das circunstâncias especiais. No dia seguinte, os fãs ardorosos tiveram que esperar no telefone novamente, como já estão acostumados.

Democráticos eles são. Seja você um bebedor caseiro solitário ou representante de um hotel cinco estrelas, todos têm a mesma chance. Se você não pertence aos poucos que tem a sorte de conseguir falar com um monge ao telefone e dirigir até a abadia, beber a melhor cerveja do mundo não é a onda mais barata. No Brasil, a Westvleteren tende a ser vendida a cerca de R$ 180, pelo menos quando está disponível. Na internet, os preços chegam a centenas de dólares.

A Westvleteren divide os amantes da cerveja em três categorias: os que já provaram, os que ainda não conseguiram colocar as mãos em uma, e os que acreditam que ainda “não é a hora”. Enquanto isso, os monges de Saint Sixtus não se incomodam muito com a sua fama. Centenas de dólares por suas cervejas, adoração de milhares, títulos mundiais... tudo o que eles realmente se importam é fazer o suficiente para se devotarem a Deus.

Eles provaram essa devoção no ano passado, quando um proeminente bispo católico foi revelado como pedófilo, tendo abusado sexualmente de seu sobrinho por anos. Alvo da raiva e do desprezo do país inteiro, ele encontrou abrigo com os monges de Westvleteren. Para qualquer companhia do mundo, algo desta natureza seria suicídio comercial, mas em Saint Sixtus eles não poderiam se importar menos com o marketing. E o mundo lá fora há de perdoá-los por isso, mas só porque são eles. O orgulho de uma nação.

2 comentários:

  1. Ainda bem que eu faço parte da 1ª categoria... E degustada no In de Vrede!!!

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    Respostas
    1. Uau! Deve ter sido uma ótima experiência.. Bem vinda ao blog, Gabriella.

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