terça-feira, 26 de novembro de 2013

Samuel Adams Utopias: garrafa fabricada no Brasil tem ouro na pintura

Produzida a cada dois anos, a Samuel Adams Utopias é um barley wine extremo que figura entre as cervejas comerciais regularmente disponíveis (excetuando raridades e edições ultra-especiais) mais caras do mundo, oscilando entre US$ 150 e US$ 350, em média, pela garrafa de 700 ml. Seus 27% de teor alcoólico (ABV), sua textura licorosa e seu sabor de caramelo e xarope de bordo (maple) já bastam para torná-la inesquecível. Mas quiseram os executivos da Boston Beer Company que sua garrafa fosse uma atração à parte. Para criá-la, a cervejaria recorreu a uma empresa já conhecida nos EUA por produzir elaboradas canecas de cerâmica para Anheuser-Busch, Miller e Pabst.

Os felizardos proprietários - como os responsáveis por este blog - de unidades de qualquer safra desta preciosidade, se já tiveram curiosidade de olhar o que há no fundo da garrafa, se depararam com a inscrição em itálico:

Decanter handcrafted by Ceramarte of Brazil exclusively for the Boston Beer Company.

Inscrição no fundo da garrafa revela origem. Quem tem, sabe. Foto: Marcio Beck

Instalada na pequena Rio Negrinhos, cidade da região Norte Catarinense a 250 km de Florianópolis, a Ceramarte tem nada menos que 57 anos no mercado. Na década de 70, segundo o site da empresa, ostentava o título de maior fabricante de canecos do mundo, com mais de 30 milhões de unidades produzidas somente para a Budweiser.

Foi fundada em 1956 pelo ceramista Klaus Schumacher. Alemão de Hamburgo, Schumacher tinha chegado ao Brasil apenas quatro anos antes, com a esposa, a técnica em pintura cerâmica Maria Erdmuthe, e a pequena filha Karin, de sete meses. Mudaram-se para Rio Negrinho após uma passagem por Pomerode, também em Santa Catarina. Schumacher morreu em 2011, aos 86 anos.

Na busca pela história de como a Ceramarte, fiz contato por email com a equipe de Marketing da empresa, que respondeu a algumas dúvidas, mas deixou outras no ar. A ideia de fazer em forma de um tanque de mostura (mashing tun) antigo partiu da própria cervejaria?

- Foi em conjunto. A Boston Beer não queria uma garrafa trivial. Como estava desenvolvendo uma cerveja especial, nada mais natural que envasá-la numa garrafa especial. Foram vários os modelos apresentados à cervejaria antes de chegarmos à forma final, que atualmente está no mercado - conta a gerente do departamento, Eneide Eckel, sem informar quando teriam começado os contatos entre a cervejaria e a fabricante de cerâmica.

Segundo ela, "a maior parte do desenvolvimento" do desenho do modelo coube à Ceramarte. O protótipo final, depois de idas e vindas ao cliente, demorou "quase um ano". O processo de fabricação, segundo ela, é feito de forma "quase artesanal", com mão de obra especializada. Cada garrafa demora cerca de uma semana para ficar pronta. A empresa não revela o custo de cada unidade, até por um detalhe-chave:

- O que diferencia a garrafa de Utopias e seu formato diferenciado é a aplicação de matérias nobres no acabamento. O lustre dourado, que lhe dá a cor característica, contém 10% de ouro puro, e as portas aplicadas à cerâmica são de metal folhado a cobre e bronze, com acabamento envelhecido.

'Vamos abrir a porta... digo, janela, da esperança!' Foto: Marcio Beck

Por fim, a empresa não descarta outras empreitadas  no ramo cervejeiro, mas não detalhou se já existem outros projetos sendo analisados.

quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Os cabeçudos atacam de novo - 2Cabeças, a cerveja sem marca... até quando?

Quase dois anos atrás, destacamos aqui no blog uma novidade. Uma cervejaria que começava produzindo não em instalações próprias, mas na fábrica de outra marca. E começava, ainda por cima, com um estilo que não era bem reconhecido como estilo - hoje, o panorama é bem diferente - e a respeito do qual os cervejeiros sequer conseguiam chegar a um consenso.

Black IPA? Dark Cascadian Ale? India Black Ale? Não importa. Foi batizada de Hi5, saudação característica nos EUA, inspirada por um detalhe pitoresco na produção - uma luva cirúrgica usada para tapar o fermentador inflou com os gases liberados pela fermentação e parecia pedir um cumprimento.

A Hi5 conquistou narizes e bocas do público e dos principais especialistas do país. Em seguida, veio a MaracujIPA. Reparando que os lúpulos presentes nas IPAs dos EUA muitas vezes traziam um aroma forte de maracujá, decidiram adicionar a própria fruta, num "dry fruiting" sobre uma base de IPA. Novamente, a cerveja foi (merecidamente) muito bem recebida. O mesmo ocorreu com a Saison a Trois, mais recente.

Nos últimos meses, os sócios da 2CabeçasBernardo Couto e Salo Maldonado ganharam a adesão de mais uma cervejeira cabeçuda, Maíra Kimura, que fez um relato apaixonado e realista de suas experiências na Inglaterra - exclusivo pro nosso blog.

Por sugestão do designer cabeçudo Bruno Couto (autor do blog Eu bebo sim e responsável pela comunicação visual da cervejaria), eles decidiram "trocar a marca por mais lúpulo". Adotaram um "X" estilizado que, segundo Bernardo, representa "a ausência, como buscar uma imagem no google e aparecer que a imagem não pode ser carregada". Golpe de marketing? Claro, mas com estilo.

As novas garrafas da 2 Cabeças, sem marca no rótulo. Foto: Divulgação

Assim, a 2Cabeças trocou o nome da Hi5 para X-BlackIPA e da MaracujIPA para X-IPA com Maracujá. A cervejaria lançou ainda, no Mondial de La Biére, duas novas criações: a X-Imperial lager, em colaboração com a Penedon, do cervejeiro Sérgio Buzzi, e a X-Session IPA. Novamente, duas receitas certeiras, mesmo para quem não é lupulomaníaco como este escriba. A X-Imperial Lager (também descrita como Imperial Pilsner) podia trazer mais lúpulos florais, mas seu aroma de grapefruit, manga e um pouco de maracujá é bem agradável.

Até quando isso vai durar, não se sabe... Para tentar entender um pouco do que se passa nas cabeças dos cervejeiros cabeçudos, preparamos, como de costume, "algumas" perguntinhas sobre isso tudo e disparamos o petardo para o Bernardo Couto. As respostas vocês conferem abaixo:


BERNARDO COUTO // Cervejeiro da 2 Cabeças

O que motivou a mudança? Quantas MaracujIPAs - digo, X-IPA com Maracujá - vocês beberam antes de chegar a essa ideia?

Boa pergunta, eu devia estar bebendo uma Maracujipa para responder... A mudança tem vários motivos, mas existia um senso coletivo, tanto nosso quanto do Bruno, de que a nossa identidade visual poderia ser melhor. E é isso que estamos buscando. Repare que estamos sem marca, ou seja, esse logo não nos representa! Também foi uma forma de nos mostrar em um caminho diferente, não só do meio cervejeiro, mas do mercado em geral. Há um apego muito grande a marcas, fórmulas "de sucesso" e isso não nos interessa. Enquanto as grandes empresas buscam associar pessoas de sucesso ou marcas consagradas às suas, perpetuar suas marcas, nós resolvemos apagar a nossa.

Já que existem muitas possibilidades no ar, existe a possibilidade de também abandonarem o nome 2Cabeças, já que agora são quatro - contando com a Maíra Kimura e o Bruno Couto?

O nome 2cabeças nunca foi, na nossa cabeça, associado a mim a ao Salo. Claro, as pessoas entendem isso e é natural. Mas o dois representa o coletivo, duas cabeças pensa melhor do que uma. O sim e o não. O zero e um. Hoje o mundo é binário. A Maíra tem uma importância muito grande no crescimento da 2cabeças, mas o nome permanece o mesmo com dois, três ou quarto sócios. Mesmo no início existiu a possibilidade de ter mais uma pessoa e o nome seria 2cabeças do mesmo jeito.

A opção por ser uma cervejaria "cigana" remete à Mikkeler. Que semelhanças e diferenças vocês veem no que vocês vêm fazendo em relação ao que os dinamarqueses fazem? 

Acho que eles são a maior inspiração neste modelo de negócio no mundo. A nossa grande vantagem é a liberdade para criar. Mas a gente não tem nenhuma inspiração neles em termos de marca ou receitas. Nós fazemos o que nós gostamos de beber, e imagino que ele também, e esse é o nosso norte. Acreditamos que fazendo produtos para a gente estamos fazendo para várias pessoas que pensam como a gente. Em termos de modelo de negócio, me inspiro muito mais na Brooklyn, que começou terceirizada e permaneceu assim por muito tempo até ter fábrica própria. Não que estejamos em busca da fábrica própria neste momento...

Que vantagens e desvantagens vocês estão vendo no modelo 'cigano'? Com a Penedon, vocês estão na sexta cervejaria (as outras foram Allegra, Magnus, Cidade Imperial, Mistura Clássica e Invicta). Existem outras em negociação para o futuro próximo? Como vocês avaliam a receptividade das cervejarias a este modelo? 

A gente não liga muito para esse currículo, ainda mais por conta de algumas experiências ruins que tivemos com algumas destas. Ainda há uma barreira a este tipo de cerveja por que quem tem a indústria ainda vê um pouco de concorrência, ou então se sente incomodado de não estar saindo uma cerveja de lá com receita do mestre-cervejeiro. Mas, cada vez mais, as cervejarias estão se abrindo à terceiros e acabamos puxando essa fila em várias delas. Para nós, está funcionando e pretendemos permanecer assim.

A devoção ao lúpulo não entra um pouco em contradição com a ideia da variedade da cultura cervejeira, de mais de 100 estilos de todos os sabores? Cerveja só presta mesmo se for amarga?

Cerveja só presta se for boa de beber! Das quatro saisons produzidas no Brasil, duas foram receitas nossas. Não acreditamos apenas no lúpulo, mas vemos ele com um grande tempero que muda a perspectiva do que as pessoas entendem como cerveja. Sim, nós adoramos lúpulos, fazemos muitas cervejas com muito lúpulo. Mas, ao mesmo tempo, em vez de dry hopping escolhemos usar maracujá em uma American IPA. Buscamos o equilíbrio, a inovação, mas, sobretudo, o prazer de beber!

Sobre a cultura cervejeira, acho que isso é plural. Não somos nós que temos que abrir todos os horizontes. Nós temos nosso caminho e outras cervejarias tem os deles. Na coletividade, se tem a diversidade de estilos. Acho que vale um adendo, nós somos lupulomaníacos que nunca lançaram uma American IPA tradicional, ou uma Imperial IPA. Há muito o que explorar, para todos os lados.

A Saison a Trois (ótima, por sinal) é a única cerveja de vocês até agora que não é uma bomba de lúpulo. Podemos esperar outras? 

Claro! Nós trocamos a marca por mais lúpulo, mas depois vamos ter que devolver esse lúpulo todo e pegar de volta uma marca, né? Temos a trilogia IPA completada com a Session. Agora podemos brincar de outra coisa.

segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Cervejeiro da Baladin propõe à Bodebrown e Colorado expedição amazônica em busca de receita



Um trio de cervejeiros - dois brasileiros e um italiano - se aventuram na mata amazônica em busca de ingredientes para uma nova cerveja colaborativa. Parece sinopse de uma versão cervejeira da Sessão da Tarde, mas é a proposta que o italiano Teo Musso, criador das birras Baladin, fez aos brasileiros Samuel Cavalcanti, da Bodebrown, e Marcelo Carneiro, da Colorado.

Foi o que Musso me contou em uma curta entrevista durante o Mondial de La Biére do Rio, realizado de quinta-feira a domingo.

- Quero ir ao meio da floresta e buscar as emoções e os ingredientes que vão resultar em uma maravilhosa cerveja colaborativa.

Pioneiro das birras artigianales no país do vinho, Musso não quis dar detalhes do projeto, mas disse que os dois brasileiros foram muito receptivos à ideia, e a viagem deve acontecer em meados de 2014.

Perguntei se ele faria como Sam Calagione, da Dogfish Head, fez com a Ta'Henket (de inspiração egípcia, que leva zathar e fruta doum) e tentaria encontrar uma levedura selvagem na Amazônia. Com uma gargalhada sonora, ele descartou a ideia.

- Não mesmo! Tenho a minha levedura, que sempre carrego na mochila. É uma levedura que venho cultivando há tempos, que alcança 100% de atenuação, e resulta em cervejas bastante secas.




quarta-feira, 30 de outubro de 2013

Recuerdos cerveceros de la Playa de Miami - ou Cervejeiro não fica com sede em Miami

Quando falei que ia passar umas semanas em Miami, a Maria Cevada estranhou:

- Ué, e Miami é destino cervejeiro? - indagou a colega blogueira.

Expliquei que a viagem não tinha a intenção de ser roteiro cervejeiro. Mas, como ocorre em todos os cantos dos EUA, o apreciador de boas cervejas não há de morrer de sede. Fiquei de compartilhar algumas dicas. Aqui estão elas.

O turista recém-chegado em Miami tem por obrigação começar o passeio pela Lincoln Road - um boulevard com lojas, bares e restaurantes de todos os tipos. Entre eles, há pelo menos dois de especial interesse para quem gosta de boa cerveja.

Um é o Rio Station. O nome não é à toa: tem brasileiros entre os sócios. A família que comanda a rede de lanches e sucos aproveitou as cinzas do Zeke's, bar de cervejas que animava a galera na região, e resolveu capitalizar em cima do movimento craft. São umas sete torneiras (o ambiente estava escuro e as fotos nao ficaram boas) e umas 100 garrafas.

A seleção dos rótulos, no entanto, é deveras questionável. Entre as importadas, diversas lagers de massa inexpressivas dividem espaço com um ou outro medalhão alemão ou belga. Entre as locais, nada que encha os olhos do caçador de cerveja mais experiente.

Outro é o bar da tradicional alemã Hofbräu. Tem pouquíssimas opções de cerveja - apenas cinco: Original, Dunkel, Hefeweissbier, Märzen e Oktoberfest -, mas todas imperdíveis. Para acompanhar, um cardápio também simples, com as opções germânicas típicas, como salada de batatas com sauerkraut (repolho fermentado), weisswürst (salsichão branco), pretzel (especie de pão com um formato "enroladinho" bem característico, que virou paixão nos EUA), e por ai vai...

O bartender foi provavelmente o mais figura dos bares em que andei por la. Um sérvio chamado Aleksandar, que adora ver a seleção brasileira de futebol jogando e se encheu de orgulho ao falar da bebida tradicional de seu país, a rakija. É uma bebida fermentada e destilada de frutas (ameixas, uvas, pêssego, pera, figo, entre outras) que alcança em torno de 40% de teor alcoólico.

Aleksandar, o bartender gente boa da Hofbrau da Lincoln Road tirando um märzen no capricho. 

Como nem só de mesa de bar vive o bom bebedor, chegou a hora de fazer as compras de mantimentos.

Para garantir aquela bicadinha de boa-noite, o famoso nightcap dos americanos, tem sempre a onipresente rede de supermercados Whole Foods, que tem foco em produtos artesanais e orgânicos. Um verdadeiro oásis para os apreciadores de craft beers.

São três filiais em Miami: Coral Gables (6701 Red Road), Miami Beach (1020 Alton Road) e Aventura (21105 Biscayne Boulevard). A que frequentei foi a de Miami Beach, onde troquei umas ideias com o encarregado da seção de cervejas - um cara que lembrava um Zack Galifianakis mais novo, cujo nome esqueci de anotar.

Ele achou curioso eu estar tirando foto das prateleiras e ficamos de papo. Contei que pagamos pela Duchesse de Bourgogne no Brasil, por exemplo (um dos poucos exemplos do que tinha na prateleira que tambem tem por aqui) o equivalente a US$ 30, em média. Chocado, ele disse que e uma cerveja da qual eles não compram muitas justamente porque é muito cara. O preço deles: US$ 11,90. Vale atentar que a Whole Foods é uma rede de supermercados para um público considerado de alta renda por lá.

Em qualquer Whole Foods que você entrar, certamente não vai se decepcionar com a seção de artesanais. 

A conversa rendeu porque além de saber detalhes da produção de cada cerveja americana que eu perguntei, ele ainda falava com propriedade dos bastidores de cada cervejaria. Sinal de que acompanhava pelo menos algumas das diversas publicações de qualidade sobre cerveja que lá existem - outra grande carência do mercado brasileiro.

TotalWine: Corredor da felicidade 
Miami reúne ainda três das 20 filiais da TotalWine no estado da Flórida - em Pinecrest (8851 SW 136th Street), North Miami (14750 Biscayne Boulevard) e Kendall (11960 Mills Drive). A rede, que começou em 1991 como um par de lojas de vinho dos irmãos David e Robert Trone em Delaware (mesmo estado onde esta a Dogfish Head), hoje tem quase 100 lojas em 15 estados. E continua uma empresa familiar e independente.

Fui na de North Miami, que aliás não fica longe do Whole Foods de Biscayne Boulevard (dá pra matar dois coelhos com uma 'caixa d'água'), e não me decepcionei. Tem um corredor com diversas estantes de cervejas, e uma área só para os packs - principalmente das industrializadas. Saí de lá com uma caixa cheia de novidades.

Infelizmente, acabei não podendo visitar cervejarias. Cheguei a sondar a Phunky Buddha e a Gravty Brewlab, que pareceram bem interessantes.

Por outro lado, cheguei a cidade em tempo de participar da Oktoberfest da Samuel Adams, promovida pela Boston Beer Company. Junto com Dogfish Head, a Boston e a cervejaria a qual mais me afeiçoei nos últimos três anos de exploração mais intensa das cervejas americanas. Sem lederhosen, mas com passe VIP que dava direito a diversas degustacões de 100 ml e alguns copos cheios, experimentei rótulos mais incomuns da cervejaria, como a a belgian IPA Grumpy Monk e a gose Verloren.

Cada um tem a Oktoberfest que pode... quem não consegue ir à Alemanha, fica com South Miami

Além de uma banda de covers e apresentadores bastante animados, o som da festa contou com um DJ que cometeu a indefectível "Ai, se eu te pego" e - pasmem - a versão proibidona do "Rap das Armas". Foi surreal ouvir os versos "morro do Dendê e ruim de invadir / nós com os alemão vamo se divertir / porque meu amigo vou dizer como é que é / aqui não tem mole nem pra DRE" naquele contexto. Não deixou de ser engraçado ver a gringaiada, obviamente, dançando despreocupada com aquela sonoridade exótica.

Nas malas, vieram umas 20 boas recordacoes engarrafadas. Devidamente inspecionadas e liberadas pela Transportation Security Adminstration (TSA) e pela Receita Federal brasileira. A TSA fez cortes em alguns plásticos-bolha usados para proteger as garrafas (Nota do Editor: Sugestão de quem nunca se decepcionou com acidentes de viagem: não economize no plástico bolha). Na chegada ao Brasil, tive que explicar ao delegado da Receita que nem toda garrafa com rolha e vinho. E não pude deixar de ficar um pouco incomodado ao ver ele fez cara de desprezo quando eu disse que eram cervejas, e que a mais cara tinha custado US$ 13,99.

segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Nem toda bolha é de CO₂: o risco do otimismo exagerado no mercado nacional de cerveja

A produção brasileira de cerveja, atualmente, é da ordem de 13 bilhões de litros por ano, segundo dados da Receita Federal. É o terceiro maior mercado mundial, atrás de China e EUA. Antes de qualquer exercício de futurologia - vemos cada vez mais por aí - sobre os rumos do mercado nacional, que têm sido infelizmente muito comuns, é preciso refletir sobre a magnitude da cifra. Dez por cento de 13 bilhões são 1,3 bilhão de litros. Um por cento de 13 bilhões são 130 milhões de litros. Zero vírgula um por cento representam 13 milhões de litros.

Ou, se preferirem, uma cervejaria capaz de 1 milhão de litros por mês. Guardemos isto, portanto:

0,1 ponto percentual (p.p.) de mercado = uma cervejaria de 1 milhão de litros por mês

Vocês perceberão adiante, espero, a importância desta reflexão.

O país é praticamente autossuficiente no produto. As exportações representam uma fatia quase desprezível do total, ficando na faixa dos 50 milhões de litros por ano. As importações têm patamar semelhante, também equivalente a 0,4% do total. Os dados podem esconder alguma subnotificação provocada por sonegação de impostos, mas são estatísticas oficiais e detalhadas do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC).

O volume do que se pode chamar de cerveja artesanal, contudo, parece pertencer ao reino da física quântica. Com os dados disponíveis, só pode ser estimado.

A Receita Federal não separa em suas estatísticas a produção industrial da artesanal. Nem revela, por questão óbvia de sigilo fiscal, os volumes que cada companhia produz. O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) diz que não monitora o volume de produção, e sim as condições de produção.

A Associação Brasileira de Bebidas (Abrabe) estima que haja 200 cervejarias artesanais, e este número é repetido cegamente por diversos especialistas e pseudoespecialistas cervejeiros porque vem de representantes idôneos, até onde se sabe, do setor. A Abrabe tem em seu quadro de associados 39 empresas, nem todas produtoras de cervejas.

O MAPA concedeu, como já mostrei em reportagem, 232 registros de cervejarias só de 1974 a 2012 - novamente, claro que existe subnotificação, porque nem todos os estabelecimentos já se submeteram ao penoso processo de certificação, que pode durar até cinco anos, como comprovou um cervejeiro carioca. Os dados deste ano ainda não foram fechados, mas apontam uma tendência de queda em relação ao ano passado, que foi o pico, com 31 registros. O MAPA disse que não poderia detalhar quais estão efetivamente produzindo.

Os números de registros foram mínimos nas décadas de 1970 e 1980, mas os dados da produção brasileira tiveram o maior avanço da história, segundo a compilação feita por nós a partir dos dados do grupo Baarth Haas. Isso comprova, por sua vez, como o programa de industrialização dos militares, voltado para a criação de grandes grupos brasileiros, com poder de fogo para disputar mercado internacional, moldou o cenário cervejeiro nacional.

A Receita Federal, por sua vez, informou-me ter registros de 595 estabelecimentos produtores de cervejas e chopes no Brasil, sendo 425 matrizes e 170 filiais. Novamente, a ressalva de que não havia a contabilização de quantas estavam em atividade.

Existe base para supor, portanto, que o número da Abrabe esteja subestimado.


EXERCÍCIO DE CÁLCULO

Noves fora, a mesma associação estima em 0,15% o mercado artesanal, o que representaria algo em torno de 20,5 milhões de litros por ano, média de 8,5 mil litros/mês por cervejaria (considerando o número de 200).

Os números e os nomes dos 65 estabelecimentos produtores inscritos no Sicobe fornece uma outra pista. Deles, apenas 21 não pertencem a alguuma das quatro maiores cervejarias do país. Entre há cerca de dez razões sociais ligadas a cervejarias artesanais de renome. As outras representam cervejarias industriais (fabricantes, normalmente, de standard american lagers) de alcance regional, mais comuns no Nordeste e no Sul.

O Sicobe, obviamente, não capta todas as cervejarias. Existem aquelas que a Receita considera que o custo da instalação do sistema de monitoramento (que inclui as famosas câmeras fotográficas para registro das garrafas na linha de montagem) é maior do que o benefício a ser obtido pela fiscalização.  

A única pista, quando perguntei ao auditor da Receita responsável pelo programa de monitoramento da produção de bebidas do país, o Sicobe, foi de que o sistema cobria 99,7% da produção nacional. Assim, teríamos 0,3% que não vêm das "sicobadas", o que corresponde a cerca de 40 milhões de litros.

Considerando que o critério da Receita Federal para instalar o sistema é a economicidade, e o Sicobe abrange pouco mais de 10% do total de registros de unidades produtoras de cervejas, podemos inferir que as produtoras destes 40 milhões de litros, ou pelo menos sua maioria, correspondem à classificação de artesanais. Estimando em 2/3 de artesanais entre as não sicobadas (0,2%), teríamos só aí 26 milhões de litros.

Entre as sicobadas, o CervBrasil, sindicato que reúne as quatro grandes (Ambev, Petrópolis, Kirin Brasil e Heineken) reivindica participação de 96%. Somando 0,4% de importações e 0,3% de não-sicobadas, concluímos que os 21 estabelecimentos produtores não pertencentes aos grandes grupos corresponderiam, portanto, algo como 3,3% do mercado. Dentro deste percentual, não é exagero supor que as artesanais sicobadas correspondam a pelo menos 0,05%, e as industriais de menor porte, aos 3,25% restantes. Seriam, assim, mais 7,5 milhões de litros, total de 33,5 milhões de litros por ano, ou 0,25% do mercado. Para arredondar, 35 milhões de litros/ano.

Novamente, portanto, existe base para supor que o número da Abrabe esteja subestimado.

Dizem que a produção artesanal brasileira chegará a 2% do mercado até 2020 ou nos próximos dez anos, ou em 20 anos. A meta é esticada, claro, cada vez que se aproxima. Não é à toa. Tem gente que propõe elevações de 15% ou 20% ao ano nos próximos anos, sem citar níveis de produção, e esquecendo que a tendência de qualquer aumento percentual é se reduzir à medida que a base de comparação vai crescendo.  

Dois por cento do mercado brasileiro significam nada menos que 260 milhões de litros. Considerando os dados recalculados acima, seria necessário aumentar em mais de seis vezes a produção artesanal atual.

Ou seja, seria necessário que brotassem mais 225 cervejarias artesanais no Brasil, todas capazes de produzir 1 milhão de litros por ano.

Vamos repetir o número, por extenso. Duzentas e vinte e cinco. Duas centenas, duas dezenas e cinco unidades. Seriam mais de 22 por ano, quase duas por mês, ao longo de dez anos. Ou dez por ano, uma por mês, ao longo de duas décadas.

Já imaginou?

Hoje, 18 anos depois do aparecimento das primeiras artesanais da nova geração, como a Dado Bier e a Colorado, quantas com tamanha capacidade existem no país hoje? Alguém sabe apontar?

Difícil, porque elas mesmas não gostam de responder a esta pergunta. Alguns blogs já tentaram e se decepcionaram com a falta de retorno dos questionários. Mas podemos dizer que as talvez dez mais renomadas estão na faixa dos 30-50 mil litros por mês declarados, sendo umas três ou quatro em torno de 100 mil litros por mês. A Krug Bier, possivelmente a maior do Brasil, chega a 200 mil litros por mês.

A Wäls, que afirma produzir 30 mil litros por mês, está investindo para chegar ao patamar de 1 milhão por mês... em 2015. Das demais, talvez a Colorado tenha fôlego para arriscar manobra semelhante. Ela já tem até exportado o produto. As exportações, afinal, são isentas de impostos, o que torna suas cervejas mais competitivas em mercados estrangeiros.

Ok, já são três. E as outras 222? Onde está o incentivo para que isso ocorra?

Seria maravilhoso, mas... qual a probabilidade de acontecer? É plausível, olhando para a situação do país hoje, defender de forma realista que um cenário assim se concretizará sem que mudanças profundamente radicais e extremamente improváveis ocorram na sociedade brasileira e na administração pública no país?

Não vou nem falar da renda do brasileiro, que mesmo com o avanço significativo nas últimas décadas, encontra-se ainda num nível lamentável quando comparada às demais nações cervejeiras tradicionais e mesmo algumas emergentes.

Muito menos abordar os impactos negativos da crise econômica global que já dura cinco anos e ainda não dá sinais de que vá desaparecer. Digo apenas que não são nada animadoras as projeções de entidades como o Federal Reserve (Banco Central dos EUA), Fundo Monetário Internacional (FMI), Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) e o Banco Central Europeu (BCE).


EVOLUÇÃO NOS EUA NÃO É PARÂMETRO 

Qualquer comparação do mercado do Brasil com o dos EUA é completamente inadequada. Além do abismo entre os dados econômicos da população dos dois países, lá, houve uma conjunção de fatores que inexiste aqui. E existe, antes de mais nada, um ambiente jurídico e tributário favorável aos empreendimentos privados de pequeno e médio porte que não está presente aqui.

É preciso lembrar que antes da Lei Seca (Emenda Constitucional 18), que entrou em vigor em 1920, a produção americana já era uma das maiores do mundo, disputando com os mercados europeus tradicionais em grandes volume como Alemanha e Inglaterra. Algumas cervejarias maiores sobreviveram diversificando a produção, voltando-a  para as bebidas não alcoólicas.

Em 1933, quando foi repelida pela Emenda Constitucional 21, as empresas puderam retomar os negócios, mas estavam em meio à Grande Depressão e o plano do secretário de Estado dos EUA, George Marshall, para reanimar a economia. E a crise econômica, como vemos agora, não é boa para o mercado cervejeiro. A cerveja, afinal, é para muitos um produto supérfluo.

Veio ainda por cima a Segunda Guerra Mundial, que fez a produção cair, na medida em que commodities importantes como trigo e cevada precisavam ser direcionados plenamente para o mercado de alimentos. As décadas seguintes foram também marcadas por conflitos, como as guerras da Coreia e do Vietnam, que também tiveram seus impactos.

Em 14 de outubro de 1978, o presidente Jimmy Carter sancionou a lei 1337, conhecida como Homebrewing Act, que permitia a produção caseira, que não permitia sua venda, mas autorizava o uso em atividades como feiras, degustações, julgamentos (campeonatos), etc. Foi o que fermentou o avanço da chamada cultura cervejeira, por meio de expoentes do "homebrewing", como Charlie Papazian. Mais ou menos uma década depois de entrar em vigor a lei, começaram a pipocar as artesanais.


VÁCUO LEGISLATIVO LIMITA MERCADO BRASILEIRO

O Brasil não tem uma lei que regulamente a produção caseira e a questão das feiras e dos campeonatos. Não à toa, tais eventos vem sendo constantemente ameaçados pela ação de fiscalização do governo. Não possui, tampouco, lei estabelecendo tratamento diferenciado para a produção artesanal comercial de pequena e média escalas. Não existem sequer os anteprojetos.

A mudança da regulamentação da produção cervejeira que o MAPA pretende propor ao Mercosul, que deve demorar pelo menos uns dois anos para entrar em vigor, regulariza o uso de certos aditivos como flores, mel, chocolate. Na prática, limita-se a abrir a possibilidade de as cervejarias brasileiras competirem em condições de menor desigualdade com as artesanais importadas, principalmente as europeias e americanas. Não terá qualquer influência na questão tributária.

O pleito de algumas artesanais - reunidas na Carta de Blumenau, lançada no Festival Brasileiro da Cerveja do ano passado - é a inclusão do segmento no Simples. O sistema, no entanto, tem a limitação de faturamento. Só pode beneficiar empresas que faturem até R$ 3,6 milhões por ano. Desta forma, uma empresa que produza 100 mil litros por ano e os venda, na porta da fábrica, a R$ 5, já se encontra além do enquadramento na facilidade fiscal.

Mesmo assim, os sinais não são favoráveis. O ministro-chefe da Secretaria Especial da Pequena e Média Empresa, Afif Domingos, tem insistido na necessidade de incluir mais setores no sistema simplificado de tributação, mas o governo não dá sinais de que pode atender à reivindicação.

Pesa sobre o setor cervejeiro, ainda o ônus de ser um setor com um "custo social" elevado, devido aos problemas de saúde associados ao abuso de álcool. Sem contar a patrulha religiosa contra a bebida, que deve se fortalecer juntamente com os movimentos neopentecostais, como já vemos acontecer.

Aos que estão vendendo - "no limite da irresponsabilidade", como diria um certo ex-diretor de banco de investimento - um futuro de bonança absoluta para o mercado cervejeiro artesanal, resta aconselhar que guardem os óculos com lentes cor de rosa antes de olhar para o mercado.

quinta-feira, 26 de setembro de 2013

As 10 piores cervejas do mundo, segundo o Ratebeer - e o que os bebedores dizem delas


Fórum online é lugar onde cervejeiro chora e a mãe não vê. Os internautas não costumam ter papas na língua para criticar as bebidas que não gostaram. Quando a bebida vem de uma megacervejaria, então, as críticas ganham ares de zombaria. É o que se pode concluir a partir da análise do ranking das cervejas com as piores notas no Ratebeer.

Selecionamos abaixo algumas pérolas dos bebedores para as dez primeiras colocadas do ranking infame. Só se pode imaginar as reações que resenhas deste tipo provocariam no nosso melindroso mercado artesanal brasileiro...


1) Natural Light
1168 resenhas  

Por que as pessoas bebem esta abominação está além de mim. Mesmo intoxicado, ainda tem um sabor ruim... como urina de gato diluída em água. - nburriola10

Gosto de água de rio amarelo com placenta defumada. Aroma de uma boa névoa de agosto na Flórida (...) - AdamBeer1


2) Natural Ice
827 resenhas

Cor dourada. Boa espuma. Dá um brilho legal. Gosto é horrível. Aroma é aguado e fraco. - tnkw01

Mais pálida que Kristen Stewart com menos 'cabeça' que Ichabod (Crane, o Cavaleiro sem Cabeça) -  tectactoe

3) Olde English 800 3,2
80 resenhas

Fortes notas de mijo, 'felinidades' e coisas geralmente ofensivas. - Homer321

JEzzusss!! Quem em sã consciência beberia esta m****? Parece que eles conseguiram sintetizar a urina de mendigos e engarrafá-la. Bebi um gole e quase vomitei. Preferiria beber desentupidor de ralo do que isso - rick70

4) Milwaukee’s Best Premium
834 resenhas

Uma cerveja realmente barata com aroma e sabor para provar porque é tão barata. - bpar37

Magra, aguada, fedida, e desprovida de sabor. Evite. - Thechasm442


5) Michelob Ultra
1207 resenhas

Se você está de olho nas calorias, então vá em frente e beba esta pobre imitação de cerveja. De outra forma, eu a descreveria como outra cerveja de merda com cor de mijo da Busch sem nenhum sabor. Estou melhor bebendo água tônica - nburriola10

(...) Se água destilada pudesse ser fermentada, teria um gosto assim. Parece que alguém pegou uma pipeta de vidro, encheu com um pouquinho de queijo cottage sem sal, e jogou uma porção disso na cerveja. (...) Estou exagerando, mas sério: não beba Michelob Ultra - Valse

6) Sleeman Clear
136 resenhas

Eu a consideraria algo como água sabor cerveja. Sem retrogosto, é claro, uma vez que não havia nada lá pra começar - mmacleod75

Isto literalmente cheira a llixo. (...) Nunca cheirei um ferimento a bala aberto, mas isto parece bem próximo. Tem gosto de lixo também. - AWS9

Se você não gosta de cerveja, provavelmente vai gostar de Sleeman's Clear, uma vez que há muito pouco sabor a ser encontrado aqui. (...) - cards04

7) Busch Ice
159 resenhas

A melhor parte desta cerveja é que ela é 5,9% - então, mesmo que você esteja praticamente bebendo água, ao menos você vai sentir algo mais rápido. Então, êêê ? - maxwelldeux

O que posso dizer? Eles pegaram a Busch e a fizeram piorar. Que pena que não posso dar nota abaixo de 0,5 aqui. - BMMillsy
8) Budweiser Select 55
195 resenhas

A melhor coisa que se pode dizer dessa Bud Light aguada é que ela realmente parece com uma cerveja.annunz123

Eu sei que isto é club soda, mas faz com que ela fique amarela? É cheia de bolhas e um pouquinho ácida. Até a lata é entediante. - ZOSEPH

Isto realmente conta como cerveja? Tenho certeza que eles conseguiriam reduzir para 0 calorias se tentassem realmente com força - Cbuk1013

9) Bud Light Chelada
296 resenhas

(...) No começo pensei que não era tão ruim, mas que diabo, é sim - yngwie

(...) Tem cheiro e gosto como se alguém tivesse vomitado coquetel de camarão. - Odeed

O nariz é molho de tomate vagabundo e pimenta preta. O sabor é de massa de tomate enlatada com mais pimenta. Despejada no ralo. - Chudwick

Ok, eu vi esta por aí e um companheiro de copo me desafiou a prová-la. Ele estava certo, se eu pudesse dar uma nota menor, daria. - nike

10) Milwaukee’s Best Light
494 resenhas

Não tenho certeza se já bebi uma cerveja que tem menos sabor de qualquer coisa do que esta cerveja. Minha melhor descrição é "água suja", mas mesmo isso seria um insulto à água. Bleh. - maxwelldeux

Água com uma sugestão de açúcar de milho e arroz. Me lembra da Bud Light. Sim, é ruim assim. Nenhuma qualidade redentora, exceto que foi de graça. - DW78715816

Eu tinha expectativas bem baixas e ela falhou em alcançá-las. (...) - AndyW68

terça-feira, 24 de setembro de 2013

Corona é a marca de cerveja mais valiosa da América Latina, diz consultoria



A mexicana Corona é a marca de cerveja mais valiosa da América Latina, de acordo com estudo da Millward Brown, empresa de pesquisas do grupo WPP, divulgado nesta terça-feira. O valor é estimado pelos analistas em US$ 6,6 bilhões.

No restante da lista, só brasileiras: a Skol foi vice (US$ 6,5 bilhões), seguida de Brahma (US$ 3,8 bilhões), Crystal (US$ 1,4 bilhão), Antarctica (US$ 1,28 bilhão) e Bohemia (US$ 1 bilhão).

Os valores aumentaram em relação ao último levantamento, em 2012. O da Skol era de US$ 4,7 bilhões (alta de 38%), o da Brahma, de US$ 2,3 bilhões (65%), e o da Bohemia, de US$ 697 milhões (42%). A Crystal não aparecia no ranking anterior, que capta as 50 marcas mais valiosas de todos os setores.

quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Alemães fazem cerveja na máquina de lavar

Quem disse que ela só serve para lavar roupa suja? Foto: Reprodução/KNA TV


ANDERSON SOARES
ESPECIAL PARA A VOLTA AO MUNDO EM 700 CERVEJAS


Sabão em pó, amaciante e alvejante. Não, peraí... água, malte, lúpulo e levedura?

Fazer cerveja é simples. Basta juntar o malte moído, a água quente, o lúpulo e jogar tudo na... máquina de lavar?!

Sim, caros leitores, é isso mesmo que vocês leram. Tem cervejeiro fazendo suas produções caseiras usando aquele eletrodoméstico que, para os sem-imaginação, serve apenas para dar jeito nas roupas sujas. Acontece na Alemanha (onde mais?), e, pasmem, não é nem tão incomum.

Foi o que descobri quando postei, de brincadeira, uma foto minha segurando a braupaddel ("colher cervejeira") em frente à máquina de lavar. Reparei que nos comentários um braubruder perguntava se eu estava na “onda” de fazer cervejas em máquinas de lavar.

Respondi imediatamente que não. Achei que era uma piada. Afinal, os alemães - contrariando a fama internacional de sisudos - fazem muitas piadas. São um dos povos mais brincalhões que conheci.

Na mesma hora, ele me mostrou links de pessoas que produziam suas cervejas - ach du lieber - em máquinas de lavar. Nestes tempos de maquininhas automáticas, alguns cervejeiros caseiros resolveram transformar suas máquinas de lavar velhas em verdadeiras waschmaschinenbier - se me perdoam o neologismo.

Produção cervejeira exige adaptação intensa da máquina de lavar. Foto: Reprodução/KNA TV

Mas não se faz cerveja simplesmente despejando os ingredientes numa máquina de lavar qualquer. O equipamento precisa ser todo modificado, incluindo a parte lógica da máquina, com o auxílio de um computador. Os ingredientes são colocados em um saco de pano, como na técnica do Brew in a bag (BIAB).

O resto é aproveitamento do hardware. As máquinas de lavar na Alemanha são capazes de aquecer a água a temperaturas na faixa de 60° C a 75° C, o que está dentro das principais faixas enzimáticas e a modificação permite total controle de temperatura por parte do cervejeiro, incluindo fervura.

Se vocês pensaram em sabores indesejados ou até intoxicação por metais pesados ou bisfenol, saibam que na Alemanha tais produtos são abolidos, não podem ser utilizados.

O cervejeiro Michael Fey. Foto: Reprodução/KNA TV
Estão curiosos? Então deem uma olhadinha no site do Michael Fey. Na seção Downloads, vocês podem encontrar todo o esquema para montar seu equipamento.

O Michael foi tema de uma reportagem da emissora de TV alemã KNA, que pode ser vista em alemão, claro. Também podem visitar o site do Marko Odders, outro expoente desta polêmica técnica de brassagem.

Bem amigos... recomendo que não repitam isso em casa. A menos que queiram arriscar de perder suas esposas.



Anderson Soaresé membro da Worschtmarktbrauerbubenbieratenbartei (WBBBB), trabalhou na Kieler Brauerei na Alemanha. Foi aluno do cervejeiro João Veiga, é “barman”, destilador artesanal, eventual colaborador deste blog e amigo de um monte de bons cervejeiros no Rio de Janeiro.

quarta-feira, 11 de setembro de 2013

Os monges trapistas do Brasil não fazem cerveja artesanal. Nem pretendem

Orações ocupam a maior parte dos dias dos monges. Foto: Mosteiro Nossa Senhora do Novo Mundo


Os monges do mosteiro trapista de Nossa Senhora do Novo Mundo despertam às 2h45, antes de o sol despontar. Quinze minutos depois, já estão se dedicando ao "ofício divino", que lhes consumirá grande parte do dia. Vigília, orações, meditação, leituras, consomem as três primeiras horas, com uma pausa para o café da manhã. Às 6h, a missa e as ações de graças ocupam-lhes mais duas horas.

Estão prontos, espiritualmente, para um expediente diário de mais de quatro horas de trabalho. Às 12h30, pausa para o almoço, e os monges têm algum tempo livre, até que voltem ao trabalho ou se dediquem aos estudos teológicos, com aulas, reuniões, conferências. Depois do jantar, que começa por volta das 18h, mais alguns minutos de tempo livre.

Congregação reunida: origem em Genessee, Nova York
Foto: Mosteiro Nossa Senhora do Novo Mundo
Às 19h30, depois de mais um pouco de dedicação ao "ofício divino", se recolhem aos seus aposentos, para repousar. O dia seguinte, afinal, não será muito diferente. A rotina é dura. Rezar e trabalhar. "Ora et labora", é o lema de São Bento.

O mosteiro de Nossa Senhora do Novo Mundo fica na pequena Campo do Tenente (PR). Começou com quatro monges vindos da Abadia Nossa Senhora de Genessee, em Nova York (EUA), que chegaram ao país em 1977 e se instalaram inicialmente, por seis anos, no município da Lapa (PR). Hoje, são 21.

Já o mosteiro Nossa Senhora de Boa Vista, em Rio Negrinho (SC), foi fundado em 2010 por oito monjas -  uma italiana, quatro chilenas e três brasileiras - que antes estavam instaladas em Quilvo, no Chile.

Os bebedores que sonham com uma autêntica cerveja trapista "brazuca", porém, vão se decepcionar. As probabilidades de algo assim acontecer parecem baixas. Os trapistas do Brasil não produzem cerveja e não estão muito interessados no assunto. Em entrevista por e-mail ao blog A Volta ao Mundo em 700 Cervejas, o irmão Gabriel Vecchi, do Nossa Senhora do Novo Mundo, diz que ambos os mosteiros seguem a produção do que já estavam acostumados em suas comunidades de origem - nenhuma delas cervejeira:

- Nenhuma das nossas comunidades trabalha com cerveja. Não há uma razão específica para a não-produção da bebida por parte dos dois mosteiros no Brasil. No momento em que uma comunidade é fundada, ela deve definir quais serão seus meios de subsistência. Isto geralmente é influenciado pelos meios já desenvolvidos pela comunidade fundadora. É mais seguro continuar num ramo conhecido do que lançar-se numa atividade totalmente nova.

E o que produzem, então?

Lavoura é uma das principais atividades do mosteiro
Foto: Mosteiro Nossa Senhora do Novo Mundo
- Nós temos uma lavoura e também produzimos bolos, mel e biscoitos; as monjas, por sua vez, trabalham com chocolates e cartões - conta Irmão Gabriel.

O religioso demonstrou estar bem a par da reputação dos produtos trapistas:

- Como deve saber, vivemos sob a Regra de São Bento, cujo lema de "ora et labora" impregna todas as nossas atividades e é o verdadeiro segredo da qualidade e do zelo com os quais nossos produtos são desenvolvidos. Cada comunidade de nossa Ordem é autônoma e isto significa que ela deve buscar seus próprios meios de subsistência. Algumas se dedicam à produção de cervejas, outras à produção de queijos, chocolates, geleias, pães, bolos, mel, etc. Há muita diversidade no que concerne às atividades desenvolvidas - explica ele.

Despediu-se apontando - corretamente - a Bélgica e a Holanda como os principais locais de produção de cervejas entre os trapistas, e recomendando que entrássemos em contato com a abadia de Scourmont, responsável pela produção das Chimay.

ATUALIZAÇÃO ÀS 12h DE 11/9/13:

Logo após a publicação do post nas redes sociais, fomos informados por um leitor que dois monges que seriam trapistas, instalados na Serra da Cantareira, fizeram curso de produção artesanal na Sinnatrah Cervejaria Escola, e têm comprado insumos regularmente. Claro que de dois monges fazendo cervejas na panela para uma cerveja trapista com produção em alguma escala o devido selo de autenticação vai uma distância grande. Mas já é um alento. Há esperanças.

Regra de São Bento prevê hospedaria para visitantes e peregrinos. Foto: Mosteiro Nossa Senhora do Novo Mundo


Primeiro mosteiro foi instalado em SP e durou 27 anos

Após uma aparição esporádica durante a ocupação francesa no Brasil Colônia, os trapistas se instalaram no Brasil já no começo do século 20. Vieram do mosteiro Sept Fons, na França, em 1903 e ficaram primeiro em um terreno em Cananeia, no litoral de São Paulo. Em vez da praia, preferiram as proximidades do Rio Paraíba do Sul e de um ribeirão no Tremembé, em uma antiga fazenda de café chamada Palmeiras.

O Mosteiro Bem Aventurada Maria, também chamado Maris Stela, ou Maristela, foi fundado no dia 13 de setembro de 1904, contou a repórter Ana Lúcia Viana no artigo Os trapistas em Tremembé (1904-1931) na edição número 281 do semanário Contato, em 2006. Além de recuperar a lavoura cafeeira, eles se dedicaram a cultivar cana de açúcar, juta, a criar gado holandês e a experimentar o plantio de arroz.

Apesar das diversas benfeitorias que deixaram, incluindo uma barragem e uma pequena usina elétrica, os trapistas não conseguiram arrebanhar os fiéis de que tanto necessitavam para manter o mosteiro. Discretamente, começaram a retornar para a França, em setembro de 1927. Os últimos partiram em março de 1931. Segundo o site da Ordem Cisterciense da Estrita Observância (OCSO, na sigla em francês), eles foram para a abadia de Notre Dame de Orval. Ainda segundo Ana Lúcia Viana, somente um, o irmão Leonard Van Hier, permaneceu; ele morreu em 1948.

quarta-feira, 4 de setembro de 2013

Blues Etílicos vai lançar sua segunda cerveja, uma american pale ale

Otávio Rocha, Pedro Strasser, Flávio Guimarães, Greg Wilson e Claudio Bedran. Foto: Nicolas Iacovone

Depois de uma hellbier um pouco fora do padrão lançada em janeiro deste ano pela Mistura Clássica, o Blues Etílicos está preparando, em parceria com o cervejeiro Leonardo Botto, uma nova cerveja com sua marca, uma american pale ale, revelou o baixista Cláudio Bedran em entrevista ao 700 Cervejas, no lançamento do novo CD da banda, intitulado Puro Malte, nesta segunda-feira (2/9). O evento, não por acaso, foi realizado no Botto Bar, na Tijuca,

- Quisemos o nome Hellbier (na primeira cerveja) por causa do trocadilho com "inferno", lembra a encruzilhada, aquela lenda clássica do blues (atribuída ao pioneiro Robert Johnson) de vender a alma ao diabo. Mas o Botto nos puxou a orelha, dizendo que não era uma helles tradicional porque tinha um perfil muito mais lupulado em vez de maltado, com lúpulos americanos, seria algo como uma "american pale lager".

Amigo do cervejeiro "desde a faculdade, ou algo assim", Bedran conta que levou o resto da banda para o caminho das cervejas artesanais. A temática alcoólica, ele lembra, acompanha a banda desde o início, com músicas como Cerveja ("Vou virar vou virar esse copo / Cheio de espuma cheio de ouro / Vem cerveja vem beijar meu sangue / Alquimia de espuma libertária"), e O Sol também me levanta ("É nessas horas, eu digo pra mim mesmo nunca mais vou beber / Mas vem caindo a tardinha... Preparo outra caipirinha").

- Somos bebedores, sempre fomos. Bebemos um pouco acima da média, exceto o Otávio (Rocha, guitarrista) - diz o baixista.

- Mas ainda estou tentando convencer eles a fazer um café Blues Etílicos - brinca Rocha.

O lançamento foi regado a chopes da primeira cerveja da banda e de duas criações de Botto para a cervejaria niteroiense Noi, a golden ale Avena e a Irish red ale Rossa, acompanhados dos belisquetes da casa, como o fundamental pão de malte, os croquetes de quatro queijos e de carne. O que mudou, em relação ao passado?

- Com o tempo, fomos deixando as bebidas mais fortes, e amadurecendo nossos gostos - explica Bedran.

A música que dá título ao novo CD é a prova maior deste amadurecimento. Com melodia do vocalista e guitarrista Greg Wilson, "Puro Malte" traz letra do gaitista Flávio Guimarães com trechos que tem tudo para virar hino dos cervejeiros artesanais ("Seja de trigo ou de cevada / Só não me venha com cascata / Não quero arroz, não quero milho / Só puro malte, meu amigo"). Essencialmente, é uma proclamação desta nova paixão em forma de shuffle de 12 compassos - arranjo rítmico tradicional do blues.

- A cerveja artesanal mudou nossas vidas, nossos hábitos, e muitas pessoas estão sentindo a mesma coisa. Existem poucos shuffles em português. Raul Seixas fez o Canceriano sem lar, o Celso Blues Boy também tinha alguns... por isso pensei em fazer algo nesta linha. A letra saiu em uma tarde, depois o Cláudio ajudou a dar uma enxugada. Quando o disco estava mixado, a gente começou a pensar no título. "Puro malte" remete a qualidade, maturidade, tem tudo a ver com o que a gente está fazendo agora - explicou Guimarães.



O caminho para a primeira cerveja da banda começou com uma sugestão do dono da distribuidora Balkonn, Giovanni Calmon, que o baixista conheceu em degustações no Lapa Café, onde a banda se apresentava regularmente. Depois de algumas conversas com a sócia de Giovanni, Andrea, chegaram ao estilo mais adequado para "não assustar o público", ao mesmo tempo em que se distanciava das lagers sem graça, sem sabor e sem aroma.

- Tem muita banda por aí que só está trocando o rótulo da bebida que a cervejaria já produzia - dispara Bedran. - Mas o Greg é a nossa esperança de no futuro ter uma cerveja que seja realmente produzida por nós.

Nascido no Mississipi, nos Estados Unidos, Greg Wilson contou que pretende usar sua próxima viagem a Nova Orleans, onde visitará a família, para comprar os equipamentos para fazer cerveja em casa. Apaixonado por cozinha desde os 13 anos, em uma família onde todos, segundo ele, sabem preparar excelentes pratos, descobriu as cervejas artesanais em um Natal, quando o irmão trouxe de presente quatro garrafas de diferentes estilos: além da comum pilsner, uma weiss, uma bock e uma christmas ale.

- A christmas ale era cheia de sabores de temperos, especiarias... foi definitivamente a que mais gostei - recorda-se ele.

Ele diz que tem planos de montar sua nanocervejaria caseira em um terreno em Friburgo.

- É uma terra com uma água aparentemente muito boa. Quero fazer uma análise química dela para saber se a composição é adequada à produção de cervejas.


* Nota: Dois dos autores do blog, Marcio Beck e Daniel Conde Perez, foram alunos do curso de produção caseira de cerveja de Botto, em novembro de 2011.

terça-feira, 3 de setembro de 2013

ARTIGO: A Internacional Social-Cervejista, por Anderson Soares dos Santos

'Quem bebe cerveja ajuda a agricultura'
Até pouco tempo atrás – em termos históricos –, na Alemanha, a cerveja era um produto exclusivamente artesanal. Era comercializada no próprio local da produção, a Brauhaus, que lembrava, em seu conceito, uma padaria. Centenas ou milhares de litros feitos com métodos arcaicos, tendo como matérias-primas, basicamente, água, malte e lúpulo. Esta realidade só veio a mudar após a Segunda Guerra Mundial, quando as megacorporações cervejeiras entraram de fato na Alemanha e popularizaram a pilsner, como ocorreu também em outros países.

A padronização – deletéria – fez a cerveja chegar a todos os cantos do mundo. Deixou de ser um fenômeno regional, artesanal, pra ser mais um produto industrial qualquer: acessível, de qualidade questionável, e o mais importante, barato. A produção em série atendeu apenas os anseios daqueles que veem os produto como mera forma de capitalizar. Para estes, vender cerveja é como vender óleo diesel, madeiras ou desinfetantes.

O conceito de “alienação do trabalho” do pensador alemão Karl Marx cai como uma luva na questão cervejeira. O artesão, antes “dono do processo”, detentor do conhecimento, foi relegado à mera condição de operador de máquinas, sem poder para definir o que e quando produzir. A transmissão do conhecimento cervejeiro passou a se resumir a quais botões apertar.

Entrou em cena um exército de reposição de envasadores, carregadores, operadores de produção e demais operários. Nenhum deles primordial para o funcionamento da máquina, podendo ser substituídos a qualquer momento. A ciência cervejeira dava mais um passo para trás.

A mudança praticamente dizimou a diversidade da cerveja, não só na Alemanha mas em todo mundo. Certos estilos entraram em risco de extinção, assim como aconteceu com as pequenas cervejarias, que acabaram sendo engolidas, pois não tinham condições de competir com os industriais em termos de preço.

Foi neste cenário, décadas depois, que ressurgiu a cerveja artesanal, resgatando toda a tradição abandonada e que corria sérios riscos de se perder. No entanto, a diversidade permanece relativamente pobre. A variedade de cervejas produzidas tanto pela indústria quanto por grande parte dos cervejeiros artesanais não passa dos dedos de uma mão (muitas vezes, pilsner, weiss, porter/stout, IPA e alguma belgian ale).

O cervejeiro artesanal sonha em fazer pouco mais que ‘pizza de mozzarela’, mas uma pizza bem feita, com os melhores ingredientes, bem preparados assados e no seu tempo certo. Mas, logo que atinge um padrão de qualidade considerável, começa a pensar em crescimento, expansão, automatização... tal qual o capitalista detentor dos meios de produção.

Isto mais parece um instinto presente em cada um de nós, e que lembra um defeito de um sistema robótico capaz de levar à autodestruição. A qualidade da cerveja também tem a ver com a maneira que é feita, seu grau de dificuldade ou raridade. É o trabalho de muitas mãos e cérebros hábeis. Atentem para o fato que ninguém joga fora sua taça de champanhe quando esquenta, mas pode fazê-lo com seu copo de cerveja. Quando se vê algo assim, há que se pensar pelo menos como tal produto foi produzido e quais foram seus desafios.

Temos alguns exemplos no Brasil de pequenos produtores que expandiram suas atividades, e as qualidades que mais aguerridamente defendiam vão por “cerveja abaixo”, se permitem o trocadilho. Ou, como dizem os alemães, Hopfen und malz verloren.

É certo que a cerveja pode ser feita por um HAL 9000 qualquer. Aos que a fazem assim, meu respeito, pois em nenhum momento dizem que seu produto é artesanal, embora fosse mais honroso dizer que é produto da Máquina X. Não quero parecer ludista, apenas expor algumas contradições do setor.

A paixão e o romantismo estão frequentemente ameaçados pela ganância e pelo capital, e muitos nem sentem estar “caminhando para o nada”. Você, cervejeiro, certamente não bebe rótulos, nem come publicidade.

Afinal... o que é artesanal, o que é caseiro? O que é cerveja? O julgamento é seu!

terça-feira, 20 de agosto de 2013

DOSSIÊ ESPECIAL CLUBES DE CERVEJA 2013 - Qual assinar? Respondemos a questão crucial

Em 20 de agosto de 2012, A Volta ao Mundo em 700 Cervejas publicou um estudo inédito das condições de competitividade de seis dos clubes de cerveja então em atividade - CLUB DA CERVEJA, CLUBEER, HAPPY NEW BEER, HAVE A NICE BEER, ONBEER e PROVA ESSA. O que mostrou mais vantagens aos clientes, na avaliação que incluiu critérios de qualidade, preço, alcance e serviços adicionais, foi o HAVE A NICE BEER, criado pelos gaúchos Pedro Meneghetti, Rafael Borges e Rodrigo Szeltzer.

Desde então, o post não saiu da lista das nossas reportagens mais lidas, tendo sido visto por mais de 5 mil pessoas. O mercado cresceu, mais empresários apostaram na ideia de cerveja por assinatura, e nossa análise também. Contabilizamos mais de 20 empreendimentos que se encaixam na descrição, dos quais selecionamos os 13 - mais que o dobro, portanto, do número do ano passado - cujas informações online permitiriam uma análise nos moldes do ano passado. Vamos a ela, então.

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1. Preço x Quantidade

1.1. Preço

O critério aqui foi rankear os clubes que oferecem os valores de assinatura mais amigáveis para as carteiras menos recheadas – o que não quer dizer que sejam mais vantajosos que outros clubes com preço mais elevado. Como há clubes com diferentes opções de assinaturas, levamos em conta o menor valor. Essas diferentes opções influem na quantidades de garrafas e nos rótulos.

OnBeer - R$ 35
Beercrew - R$ 39,90
Club da Cerveja -  R$ 45
Beermonks  -  R$ 46,90
Clube do Malte  -  R$ 49,90
Weiss Bier Club  -  R$ 49,90
Clubeer  -  R$ 58,90
Give me a beer  -  R$ 59,90
Os Cervejeiros Beer Club  -  R$ 59,90
Clube Os Cervejeiros  -  R$ 60
Cervejastore Tasting Club  -  R$ 69,00
Have a Nice Beer  -  R$ 69,90
Prova Essa  -  R$ 69,90
Beer&Bier  -  R$ 75


1.2. Quantidade

Prioridade para a oferta de maior número de rótulos por assinatura. Quanto mais garrafas, mais elevado será o preço da assinatura. O interessante é poder experimentar uma quantidade maior de rótulos do que repetir a mesma cerveja duas ou mais vezes. Você pode gostar muito de algumas das selecionas, mas outras certamente não irão lhe agradar.

Beermonks  -  4 rótulos 4 garrafas
Cervejastore Tasting Club  -  3 rótulos 3 garrafas
Have a Nice Beer  -  2 rótulos 4 garrafas
Os Cervejeiros Beer Club  -  2 rótulos 4 garrafas
Clube Os Cervejeiros  -  2 rótulos 4 garrafas
Give me a beer  -  2 rótulos 4 garrafas
Prova Essa  -  2 rótulos 4 garrafas
Clubeer  -  2 rótulos 4 garrafas
Beercrew  -  2 rótulos 4 garrafas
OnBeer  -  2 rótulos 2 garrafas
Clube do Malte  -  2 rótulos 2 garrafas
Beer&bier  -  2 rótulos 2 garrafas
Weiss Bier Club  -  2 ou mais itens (Entre cervejas e copos)
Club da Cerveja  -  1 rótulo 2 garrafas

CONCLUSÃO: Pela segunda vez, o ONBEER apresentou o menor preço entre os pacotes básicos de assinatura, ainda a R$ 35. A diferença do seu preço para o do mais caro do ano passado, o Prova Essa, era de 99%. Desta vez, o mais caro encontrado foi o BEER&BIER, a R$ 75 (115% de diferença). O BEERMONKS, que entrou este ano na nossa ponderação, mostrou a maior quantidade (e, como bônus, a variedade), chegando a oferecer 4 garrafas todas de rótulos diferentes. O CLUB DA CERVEJA teve a menor quantidade, ficando em desvantagem quanto à variedade, oferecendo duas garrafas do mesmo rótulo na opção mais simples.


2. Preço médio X Qualidade

2.1. Preço Médio

O Preço Médio foi obtido por meio de pesquisa em três sites de venda de cervejas especiais. Recolhemos as informações sobre as três seleções mais recentes de cada clube e calculada a média aritmética simples dos preços de cada cerveja. Não multiplicamos pela quantidade de garrafas disposta em cada tipo de assinatura; o valor apenas representa o equivalente a um rótulo.

Prova Essa  -  R$ 23,22
Club da Cerveja  -  R$ 22,26
Cervejastore Tasting Club  -  R$ 21,36
Weiss Bier Club  -  R$ 17,75
Beercrew  -  R$ 17,24
Beer&bier  -  R$ 17,13
Beermonks  -  R$ 16,44
Clube Os Cervejeiros  -  R$ 16,38
Os Cervejeiros Beer Club  -  R$ 15,82
Clube do Malte  -  R$ 15,64
Give me a beer  -  R$ 13,98
OnBeer  -  R$ 13,66
Clubeer  -  R$ 13,16
Have a Nice Beer  - Cervejas não encontradas nos beer-commerces brasileiros


2.2. Qualidade

A Nota Média foi obtida através de pesquisa feita em três diferentes sites de ranking cervejeiro. Foram recolhidas as informações sobre as três últimas seleções de cada clube e feita a média entre as notas de cada rótulo oferecido.

Club da Cerveja  -  3,98
Beermonks  -  3,74
Prova Essa  -  3,7
Beer&bier  -  3,69
Os Cervejeiros Beer Club  -  3,68
Weiss Bier club  -  3,67
Beercrew  -  3,65
Cervejastore Tasting Club  -  3,56
Clube Os Cervejeiros  -  3,56
Have a Nice Beer  -  3,55
Clube do Malte  -  3,54
Clubeer  -  3,36
Give me a Beer  -  3,24
OnBeer  -  3,18

CONCLUSÃO: O clube que ofereceu as cervejas encontradas aos menores preços médios nos e-commerces pesquisados foi o CLUBEER, com média de R$ 13,16 e o clube de maiores preços médios foi o PROVA ESSA (o que certamente é um fator de influência para seus preços), com R$ 23,22, diferença de cerca de 75%. O HAVE A NICE BEER foi impossível de categorizar por um motivo simples e revelador: não encontramos as cervejas oferecidas nas suas últimas levas nos diversos e-commerces que temos de referência. O investimento na exclusividade das cervejas, que já havíamos apontado na análise anterior, parece ter se intensificado. As remessas de cervejas com as maiores notas médias foram as do CLUB DA CERVEJA, que alcançaram 3,98; as de média mais reduzida, de 3,18, vieram do ONBEER (o que certamente é um fator de influência para seus preços).


3. Alcance x Frete

Nota-se que quase todos os clubes estão disponíveis para enviar para qualquer canto do Brasil, claro, desde que se pague o valor do frete. Apenas um tem sua área de atuação limitada. Talvez seja estratégia; não tendo como abraçar o mundo, pode-se começar um negócio visando apenas o nicho local, expandindo quando possível. É até uma forma de validar o negócio sem a necessidade de investimento pesado como outros clubes dispuseram.

3.1. Alcance

Beer&Bier  -  Todo o Brasil
Beermonks  -  Todo o Brasil
Cervejastore Tasting Club  -  Todo o Brasil
Club da Cerveja  -  Todo o Brasil
Clube do Malte  -  Todo o Brasil
Clube Os Cervejeiros  -  Todo o Brasil
Clubeer  -  Todo o Brasil
Give me a beer  -  Todo o Brasil
Have a Nice Beer  -  Todo o Brasil
OnBeer  -  Todo o Brasil
Os Cervejeiros Beer Club  -  Todo o Brasil
Weiss Bier Club  -  Todo o Brasil
Prova Essa  -  Todo o Brasil
Beercrew  -  Não informa


3.2. Frete

Aqui, a ideia foi ordenar de acordo com o que oferece mais oportunidades de custo zero no frete para os sócios. No inicio dos clubes, o frete era uma grande barreira de entrada para os consumidores, tendo em vista os altos valores cobrados pelas transportadoras. Com o passar do tempo e aumento de demanda, chegou-se a situação de oferta generalizada de gratuidades

Beer&Bier  -  Frete grátis para RJ e outras 1.000 cidades em 9 estados brasileiros
Have a Nice Beer  -  Porto Alegre, Curitiba, São Paulo e em algumas cidades da região da Grande São Paulo
Club da Cerveja  -  São Paulo. R$ 10 fixo para resto do Brasil
Weiss Bier Club  -  São Paulo e Guarulhos. R$ 13 fixo para o resto do país.
Prova Essa  -  Grátis em Rio, Niterói e São Gonçalo, fixo em R$ 9,99 para o resto do país
Clube do Malte  -  "Reduzido para mais de 50 cidades"
Give me a beer  -  Curitiba e 31 cidades de Santa Catarina
OnBeer  -  São Paulo e Grande São Paulo
Clubeer  -  São Paulo capital
Cervejastore Tasting Club - São Paulo capital
Beermonks  -  Curitiba
Beercrew  - "Especial para SC, Curitiba e outras cidades"
Os Cervejeiros Beer Club  -  Grande São Paulo e São José dos Campos (Demais cidades há acréscimo de valor na assinatura + Frete)
Clube Os Cervejeiros  -  Nada grátis

CONCLUSÃO: Dos clubes analisados, apenas o BEERCREW não informou o alcance. O BEER & BIER consegue atender ao maior número de cidades sem o peso do frete, seguido do HAVE A NICE BEER. O CLUB DA CERVEJA libera os paulistanos da taxa, e estabelece um fixo para o resto do país, assim como o WEISS BIER CLUB. Já o CLUBE DOS CERVEJEIROS ficou na ponta de baixo da tabela, por não apresentar gratuidades.


4. Serviços adicionais, site e opções de pagamento

4.1. Serviços adicionais

Have a Nice Beer  - Venda de cervejas além da assinatura, cervejas exclusivas, copos e revista impressa
Beer&Bier  -  Encarte "Como Degustar", ficha de degustação, bolachas colecionáveis, e revista da cerveja (para assinaturas semestrais ou superiores); Desconto de 10% para Acerva Carioca e 5% para Acerva Paulista.
Beermonks  -  Compra de cervejas além do pacote. Conteúdo exclusivo para os sócios. Programa de fidelidade.
Weiss Bier Club  -  Desconto em cursos, carteirinha de membro, desconto em produtos, fichas de degustação, acesso exclusivo a material sobre cerveja
Cervejastore Tasting Club  -  10% desconto na loja. Album e fichas técnicas. Acesso antecipado a cervejas lançamento. Promoções especiais.
Clube do Malte  -  Copo, guia de degustação, jornal
Clubeer  -  Cartão informativo, embalagem para presente e bolachas.
Beercrew  -  Beercard das cervejas e harmonização, brindes (bolachas, chaveiros, abridores)
OnBeer  -  Ficha informativa e bolachas
Club da cerveja  -  Card informativo
Prova Essa  -  Compras adicionais
Give me a beer  -  Revista guia de informações
Os Cervejeiros Beer Club  -  Não informa
Clube Os Cervejeiros  -  Não informa


4.2. Site

Have a Nice Beer  -  Blog atualizado frequentemente. Simulador de frete, bem informativo e FAQ completo.
Clubeer  -  Bem informativo. Ferramentas úteis. Detalhes para o frete deveriam estar mais acessiveis.
Clube do Malte  -  Informações Básicas (faltou informações sobre as cidades de frete reduzido), simulador de frete.
Beermonks  -  Bonito e moderno, mas faltam informações básicas.
OnBeer  -  Site legal e aparentemente bem informativo, mas contém alguns erros e a falta de atualização pode confundir o cliente.
Club da Cerveja  -  Bem informativo e navegação fácil. Falta atualização.
Cervejastore Tasting Club - Não fala nada sobre o frete.
Prova Essa  -  Bem informativo. Blog atualizado. Lento na data do acesso (16/08/2013 as 01:17). FAQ menciona "garrafa especial" sobre a qual não se encontra informação no site.
Beercrew  -  Bem bacana, moderno, mas faltam informações básicas.
Beer&Bier  -  Blog atualizado frequentemente. Informações relevantes em banner. Mais informações só no FAQ.
Os Cervejeiros Beer Club  -  Informações pulverizadas no site
Clube Os Cervejeiros - Faltam informações básicas
Weiss Bier Club - Faltam informações básicas
Give me a beer - Faltam informações básicas


4.3. Opções de pagamento

Beer&bier  -  Cartão de crédito (6 bandeiras), débito (Visa electron) e boleto bancário.
Clubeer  -  Cartões de crédito, débito e boleto bancário.
OnBeer  -  Cartões de credito (Visa e mastercard) e UOL PAGSEGURO
Cervejastore Tasting Club  -  Cartão de crédito Visa e Mastercard
Have a Nice Beer  -  Cartões de crédito (Visa, Mastercard e Amex)
Clube do Malte  -  Cartões de crédito (Visa e Mastercard)
Beermonks  -  Cartão de crédito ou Boleto
Prova Essa  -  Cartão de crédito ou Boleto
Beercrew  -  Cartão de crédito
Club da Cerveja  -  Pagseguro
Os Cervejeiros Beer Club  -  Pagseguro
Clube Os Cervejeiros  -  Pagseguro
Weiss Bier Club  -  Não informa
Give me a beer  -  Não informa

CONCLUSÃO: Nos serviços adicionais, o HAVE A NICE BEER se distancia dos demais. Cervejas exclusivas produzidas por cervejeiros tanto do Brasil (2Cabeças) quanto do exterior (Mikeller) continuam um diferencial difícil de igualar. Mas o BEERMONKS parece disposto a competir nas vantagens. Também oferece a compra de cervejas fora do pacote, agregando um serviço importante, que na última análise era oferecido somente pelo HNB. Hoje, o HNB tem disponíveis ainda os copos das cervejas vendidas e entrega uma revista impressa com conteúdo básico diversificado e visual caprichado, enquanto os demais costumam optam por fichas técnicas e conteúdo online. Em termos de site, novamente, o HAVE A NICE BEER fica na dianteira. E novamente, com um competidor de peso à espreita: o CLUBEER, que também presença online intensa. Nas opções de pagamento e no frete, a liderança é do BEER&BIER, seguido pelo CLUBEER.

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ATUALIZAÇÃO EM 21/8:  Fomos contatados pelo PROVA ESSA, cujo site se encontrava desatualizado após passar por uma mudança de proprietário. Os dados do frete e das opções de pagamentos foram portanto revisados, bem como as análises correspondentes, quando pertinente.

ATUALIZAÇÃO EM 3/9: Recebemos contato de outro clube de cervejas, o BEER & BIER, que solicitou correções de informações. Os dados de frete e de serviços adicionais também foram revisados.

RESULTADO FINAL: Assim como ocorreu no ano passado, o clube de cerveja mais vantajoso na nossa análise é o HAVE A NICE BEER, pelas razões já expostas. E será difícil alcançá-lo pelo menos num futuro próximo As tendências que apontamos nesta avaliação tendem a ser amplificadas com a "parceria" do HNB com o gigante dos vinhos Wine.com.br, anunciada há dois meses. No ano que vem, possivelmente, teremos que tratá-lo como "hors concours". Merecem menções honrosas BEER&BIER, que também se colocou como melhor em duas categorias, o BEERMONKS e o CLUBEER, que se destacaram em diversas categorias.