terça-feira, 9 de outubro de 2012

Consumo maior de cerveja aquece mercado de malte, matéria-prima básica da bebida

Grãos de cevada são usados para fazer o malte, matéria prima fundamental da cerveja (Divulgação/Heineken)

A temperatura está subindo no mercado de malte brasileiro. A compra do controle da Malteria do Vale pela francesa Soufflet, em agosto, por um valor não revelado - o que geralmente acontece quando a "adquirente" paga demais ou de menos pela "adquirida" - foi o sinal mais claro de que a expansão do consumo mundial de cerveja deverá ter repercussões profundas no Brasil. O país, afinal, é um dos maiores produtores mundiais de alimentos e a tendência é que cresça ainda mais nesta área nos próximos anos.

O malte é a matéria-prima fundamental da cerveja. É o grão, normalmente de cevada ou trigo, que é deixado em meio úmido para começar a germinar e depois passa por secagem - que interrompe a germinação. A intensidade do calor e o tempo da secagem dão cor ao malte, influenciando a cor e o sabor da cerveja. Ele é cozido com água, filtrado, e o resultado do processo, o mosto, recebe o fermento, que produzirá gás carbônico e álcool, completando a magia. Grossíssimo modo, já que os sabores e os aromas dependem também de outros elementos, as cervejas feitas com maltes claros, geralmente, lembram pão e biscoito, as avermelhadas, caramelo e nozes, e as escuras, café e chocolate amargo.

Jean-Michel Soufflet, presidente da Soufflet
A Malteria do Vale fica em Taubaté, em São Paulo, e produz 105 mil toneladas por ano. Com a participação nesse negócio, a Soufflet chega a 2,14 milhões de toneladas por ano (que o Valor exagerou para 5 milhões), ficando "apenas" 200 mil toneladas atrás da líder Malteurop.
Nas entrevistas que deu a respeito da negociação, o presidente da Soufflet, Jean-Michel Soufflet, destacou que a aquisição, a primeira da empresa fora do país, é parte da estratégia global da empresa em dois níveis: um, para acompanhar a concentração das indústrias cervejeiras em gigantes transnacionais, e dois, para brigar com a dona do pedaço no mercado de malte.

Em bom português: grandes chances de os gringos quererem nosso malte para vender ao resto do mundo. O malte produzido nacionalmente já é pouco - cerca de 40% do total consumido pela indústria, segundo fontes do setor - e periga fica ainda mais escasso.

A Ambev, que representa 70% do nosso mercado, sentiu o calo doer em seu balanço mais recente. O custo por volume subiu 3,4% e parte disso foi culpa, segundo a empresa, do "aumento dos custos das matérias-primas, princialmente o malte". Segundo estimativas de especialistas, o malte representa em média um peso de cerca de 75% no custo total da matéria-prima e 5% do preço total do varejo.

Principal cliente das maltarias brasileiras, a Ambev já começou se defender de uma possível redução da oferta já sofrível no mercado interno.

Nos próximos meses, a gigante deverá inaugurar sua quarta maltaria, em Passo Fundo, no Rio Grande do Sul, com capacidade para 110 mil toneladas por ano. O investimento é de R$ 200 milhões.

A empresa também sinalizou discretamente que apoiará os que quiserem arriscar investimentos. Não faz muito tempo, o Governo do Estado de Santa Catarina anunciou que a Cooperativa Agrária, uma da principais fornecedoras da Ambev, vai gastar R$ 212 milhões para construir mais uma maltaria. A unidade, a terceira da Agrária, produzirá 80 mil toneladas de malte por ano a partir de 2015. Atualmente, a cooperativa tem produção total de 240 mil toneladas por ano.

Não encontramos registros de movimentações semelhantes por parte da Heneiken, outra megacervejaria multinacional instalada em terras brasilis. As outras grandes cervejarias, se o fizeram, fizeram na surdina. Como não têm capital aberto, ou seja, não negociam ações na bolsa de valores, não precisam tornar públicas uma série de dados.

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