sábado, 29 de setembro de 2012

Governo alivia cervejarias para o verão e dilui reajuste da carga tributária


Para aliviar a tributação de alguns setores da indústria, o governo decidiu aumentar a carga já pesada (PIS, Cofins e IPI) das cervejarias. Até aí, justo. O governo tem todo o direito de sobretaxar um setor que tem um "custo social", digamos assim, tão grande quanto o de bebidas alcoólicas e do tabaco.

Pois hoje o governo anunciou duas coisas: uma, que o aumento vai ser menor do que o anunciado anteriormente; duas, que ele vai ser efetivo a partir de abril do ano que vem, em vez de começar no próximo dia 1o. O efeito prático desta última medida é que as cervejarias não vão, teoricamente, precisar aumentar os preços no verão, quando já há uma alta sazonal devido à demanda.

- No dia internacional do happy hour (sexta-feira), estamos anunciando uma redução de carga para a cerveja - brincou o secretário da Receita Federal, Carlos Alberto Barreto, no anúncio.

Piada bem sem graça. Pra não dizer que falta com a verdade.

Não vai haver redução da carga. Nem ela vai aumentar menos. O aumento, que deriva de uma mudança na base de cálculo da parcela dos impostos que incidem sobre o preço final do produto, vai ser diluído em seis anos, em vez de quatro anos, como estava previsto anteriormente. O maior reajuste na carga tributária será a cerveja em garrafa de vidro retornável, seguida da garrafa de vidro não retornável, e por fim as latas.

A estimativa do governo de repasse aos consumidores agora é de 2,15% - antes, era de 2,85%. Como já mostramos aqui, a Ambev admitiu, em apresentação feita a executivos de um banco alemão, uma elevação de mais ou menos 4% nas cervejas e 8% nas CSDs (carbonated soft drinks, bebidas leves carbonatadas, apelido corporativo dos refrigerantes).

Por que as cervejarias ganharam o prêmio?

Porque elas bancaram as boas meninas - diferentemente das empresas automobilísticas, que levaram bronca da presidente Dilma por demitirem após os generosos incentivos fiscais que alavancaram as vendas. Elas se comprometeram a renovar a frota de caminhões, ampliar as fábricas, enfim... investir, como quer o governo, alimentar as próprias medidas do Plano Brasil Maior, que gerou o aumento (não é irônico?). O crescimento do país não se sustenta só com consumo, afinal de contas...

E umas palavrinhas quanto às variações de preço da cerveja.

Confirmando as análises do Instituto DataCerva, a Agência Estado "descobriu" no último dia 25 (segunda-feira) o que quem lê o nosso blog já sabia há quase um mês: que a inflação da cerveja anda nada menos que O DOBRO da média da cesta de produtos cuja variação de preços é medida pelo IBGE.

Não arriscamos no post a hipótese da Irene Machado, que é uma excelente analista de varejo do instituto, sobre o repasse antecipado dos preços após o anúncio do pacote pelo governo porque é algo com o qual concordamos parcialmente. A maior parte da alta vem, como citamos no post, vem do segundo semestre do ano passado.

Os gráficos que publicamos do comportamento da inflação nas nove capitais pesquisadas pelo IGBE, por outro lado, apontaram uma alta súbita e significativa em maio, ou seja, após o anúncio do plano, que havia nos gerado essa suspeita. Os números dos meses seguintes parecem confirmar a tendência de alta, mas seria preciso a análise do comportamento do índice em anos anteriores para confirmar a influência desse aumento no resultado atual.

2 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Excelente post senhores. O governo, como de costume, mente transformando uma péssima notícia em supostamente um benefício.
    Apenas um adendo para discussão: não posso concordar com a aceitação de que tributação de mais 60% seja justa. Não é sequer tributação, isso é extorsão expropriatória. E o argumento de custo social, mesmo imaginando que fosse aceitável, não poderia jamais ser suprido através de impostos mas sim de taxas que possuem destinação específica.
    É sim uma extorsão, agravada pelo sistema de pauta tributária que impede o surgimento de novos players e beneficia descaradamente as grandes companhias em detrimento das pequenas cervejarias.

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