sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Ou será que cerveja é mesmo água?

Todo mundo que lê este blog, provavelmente, leu na semana passada uma das muitas reportagens a respeito de um estudo feito na Espanha por um certo professor Manuel Castillo, da Universidade de Granada, afirmando que após um exercício, uma cerveja hidrata como a água (aqui tem uma penca delas, se ainda não tiver lido ou quiser reler). No geral, limitaram-se a copiar uns trechinhos do resumo, usando-os como se fossem declarações de Castillo.

Mas, como faço questão de repetir, tem coisas que você só vê aqui em A volta ao mundo em 700 cervejas.



Como as matérias citavam o 6o. Simpósio de Cerveja e Saúde corri para o site do simpósio, que infelizmente, não traz a íntegra dos estudos apresentados, só os resumos. A segunda coisa que descobri no site foi que havia um painel de pesquisadores com investigações em campos bem variados, buscando estabelecer se os mitos a respeito dos efeitos da cerveja sobre a saúde são verdadeiros. Com mais algumas clicadas certeiras, consegui o email de Castillo e enviei-lhe algumas perguntas.

Houve energúmenos em diversos sites criticando o embasamento científico do estudo, sem lê-lo, e insinuando que se trata de uma mera peça de propaganda da indústria de bebida alcoólica. O evento é de fato patrocinado pela Brewers of Europe, grupo fundado em 1958 e baseado em Bruxelas, formado pelas empresas do setor. Daí a invalidar todos os trabalhos apresentados... vai uma distância.

O estudo, que tem 164 páginas, incluindo a bibliografia, é bastante detalhado e não foi feito somente por Castillo, que é médico e PhD especializado em Patologia Química e Nutrição-Endocrinologia, é professor de Fisiologia Médica e chefe da Unidade de Fisiologia Clínica e do Exercício da universidade de Granada. Além dele, estão incluídos ainda David Jiménez Pavón e Mónica Cervantes, do Grupo de Investigação em Avaliação Funcional e Fisiologia do Exercício do Departamento de Fisiologia Médica da Faculdade de Medicina da Universidade de Granada e Javier Romeo e Ascensión Marcos, do Grupo de Imunonutrição do Instituto de Ciência e Tecnologia de Alimentos e Nutrição do Conselho Superior de Investigações Científicas de Madri.

Ok, é bastante título. O currículo dele é gigante. Dos outros, não procurei (e também porque ficaria chato de citar), mas imagino que não deixem muito a dever.

Outra coisa que nenhum site dos que vi se preocupou em explicar: como eles fizeram?

O estudo foi feito com 16 voluntários jovens, todos homens, consumidores "moderados" de cerveja. Eles realizaram duas sessões de exercício "exaustivas e desidratantes", com três semanas de intervalo, a temperatura de 35º C - o equivalente a um dia ameno no verão no Rio. Os voluntários fizeram 60 minutos de esteira e, depois, passaram duas horas re-hidratando. Na primeira, usaram água, na segunda, 660 ml de cerveja comum tipo lager.

Depois, os pesquisadores analisaram "variáveis que poderiam ser influenciadas pelo exercício, hidratação ou álcool foram medidas", incluindo composição do corpo, análises de sangue e urina, volume de plasma, danos musculares e inflamações, parâmetros imunológicos e fatores psicocinéticos (coordenação, atenção, distinção de estímulos, tempo de percepção-reação e campo visual).

"Em nenhum destes parâmetros foi encontrado nem um efeito específico nem negativo que possa ser atribuído à ingestão de cerveja, comparada à ingestão de apenas água. Em conclusão, pelo menos em adultos jovens, saudáveis, cerveja em quantidades moderadas é tão eficaz quanto água para re-hidratação e recuperação após exercício". Ou seja... tem alguns condicionantes aí.

Se o dr. Castillo gostou das perguntas, não deixou transparecer. As respostas curtas podem ser também resultado de falta de tempo. Futuramente, depois que destrinchar o estudo, darei mais detalhes sobre suas conclusões e os métodos usados para se chegar a elas. Enquanto isso, fiquem com as palavras do especialista:

BATE-PAPO // DR. MANUEL CASTILLO, MÉDICO E PROFESSOR DA UNIVERSIDAD DE GRANADA

Dezesseis pessoas participaram do estudo, todos homens e jovens. Por que se escolheu este público em especial?

Queríamos uma amostra de pessoas saudáveis, que praticam atividade física de maneira recreativa e que consumem cerveja habitualmente.

Por que este número?

Foram selecionados 20, mas três não puderam terminar algumas das provas e um não se apresentou na segunda (bateria de exercícios).

Há planos de ampliar a investigação para um público mais amplo e diverso?

Não a curto prazo. Mas pode ser no futuro.

As propriedades diuréticas da cerveja não influem na re-hidratação?

Quando se está desidratado, não, já que primeiro são repostas as perdas hídricas.

Considerando que o número de calorias da cerveja está acima da água, podemos supor que a re-hidratação com cerveja recupera a maior parte da energia consumida no exercício. Para aqueles que preferem se refrescar com cerveja, existiria algum estilo mais apropriado?

Não estudamos isto.

A prova foi realizada com 660 ml de cerveja. Essa seria a quantidade máxima indicada?

É a que se considera um consumo moderado.

Bebe cerveja? Quando começou? Tem uma cerveja preferida?

Sim, sobretudo depois de jogar ou esquiar, que são os dois esportes que pratico. E também como aperitivo. Bebo desde sempre.

Quando começou a se interessar pela cerveja como objeto de estudo?

Após uma conversa com um parente sobre o que era melhor beber após fazer exercício.

Como foi feita a seleção de sua obra para este simpósio?

Não sei.

Pretende realizar outras investigações sobre os efeitos da cerveja na saúde humana?

Si, não me importaria.

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